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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma luz

Andando por um caminho que ninguém mais entende
Onde tristeza e alegria são pontos de vista
E o tempo, vilão ou herói, torna-se figurante
Um sorriso espontâneo e sem explicação
Traz significado ao ininteligível
Não existem certezas, nem promessas
A realidade se confunde com as lembranças
E o passado, vívido, ofusca o presente
Nem mágoas ou frustrações
Ali onde, por acaso ou por saudade,
Nossos caminhos se cruzam
Ali existe uma luz, brilhando na frequência de um sentimento
Um sentimento de espera, e ele nunca vai embora...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Saudade de nós

Sinto saudade
Não por estar triste, porém,
Nem poderia estar feliz
Apenas vivo a ausência
Da melhor parte da minha alma
Que continha a felicidade e a realização
Resumidas em um sorriso e enfatizadas num olhar
Não são dores nem tormentos
É o tempo, implacável e imparável
Que apaga as memórias e silencia o choro
E a vida, desajeitada e mal humorada, insiste em seguir
Vivo a ausência de instantes eternos
Instantes sinceros, que vivi e sonho viver
Na descoberta de um amor imensurável
Com saudade da época em que não era eu
Não era você
Éramos nós
Almas entrelaçadas
Corações em ressonância
Não que esteja triste
Nem que esteja só
Apenas estou eu
E queria estar nós

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Imagem e Semelhança

Assombrado pelos próprios medos, não sou eu quem pensa, pensam por mim.
Disfarçam a realidade, transmutam os valores, vendem sonhos, contam mentiras até torná-las verdades absolutas.
Escravizado pela rotina, ações mecânicas, programado para reagir, entorpecido pelas drogas da modernidade.
Perdido, passageiro da própria vida, espectador das próprias ações, cão domesticado pelo sistema.
Porção diária de mediocridade, acompanhada de alienação progressiva. Vontade castrada, alma infértil, pensamento linear.
Quem sou eu? Eu sou eu, sou você, sou homem, sou filho de Deus ou bastardo do Sistema? Adotado pelo Diabo, amado pela indiferença, irmão do caos.
Imagem e semelhança da decadência, não ressuscitarei ao terceiro dia.
Vivo uma unica vez, morro infinitas.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

O silêncio

Cigarro aceso, o gosto da nicotina tornava mais amargo o choro engasgado.
O peito doía somatizando a dor da alma. Pernas trêmulas, olhar vazio. Olhava pela janela, a morte seduzia, deixara de ser covardia para se tornar uma opção tentadora. O desespero torturava, tingindo de cinza tudo que estava ao alcance dos olhos. Em vão, tentava entender o que acontecia, precisava entender. Não conseguia aceitar, memórias se dissolviam diante da decepção e catalizavam as lágrimas. Choro, soluços, uma angústia muda, solitária, tinha por testemunhas os arranha-céus, não encontrava consolo.
Imaginava coisas, alucinava de terror. Andou pelo quarto, abriu gavetas, trocou de roupa. Ligou o aparelho de som, revirou os cds, mas já sabia a escolha. Era sua banda favorita, sua música favorita. Cantou a letra com todas suas forças, não tinha mais medos de que reclamassem por ser desafinado. Sua voz soava como um mantra, repetia o refrão quase como uma reza e murmurava "someday yet, he'll begin his life again..." Porém, não acreditava nisso, não mais, não naquela hora.
Já havia tomado sua decisão. Sentou-se no chão frio do quarto. Ouvia o solo, não tinha mais vergonha das lágrimas, nem temia ser visto.
Levantou-se, começou a balançar a cabeça freneticamente, numa dança de loucura e liberdade, finalmente permitia-se ser ele mesmo, sem máscaras, sem receios. Sentia-se auto-suficiente pela primeira e última vez. Sem que percebesse, meia hora se passou e continuava a dançar, mesmo após o final do cd, era sua coreografia, seu ritual sagrado de renúncia.
Esgotado, despencou ao chão, quase sem forças. Os pensamentos não paravam, a mente girava numa espiral sem fim.
Todos seus sonhos saltaram-lhe os olhos num mosaico de sentimentos e imagens. Recortes de planos futuros e nostalgias. Seu mundo colapsava num misto de rejeição e incompreensão. Não era mais parte da entorpecida realidade que o cercava, sequer sabia se de fato um dia foi.
Tudo o que queria era não estar só, ouvir que era importante, que tudo tivera um significado, por menor que fosse. Queria um abraço, um carinho, migalhas de compaixão.
Subiu na janela. Hesitou, precisava ser ouvido. Queria mais do que indiferença. Era o momento de se quebrar a maldição, de ouvir as palavras mágicas que trouxessem redenção, ou paz.
Contudo, não era conto de fadas, não havia final feliz. Abraçou o vazio, suspirou seu destino.
Ouviu o silêncio e não foi ouvido...

domingo, 4 de julho de 2010

O meu caminho

Tantos são os caminhos
Os que andei
Os que ainda quero andar
Nos quais encontrei respostas
Ou novas perguntas
Atalhos, desvios, becos-sem-saída
Jornadas maravilhosas
Que levaram a destinos medíocres
Viagens torturantes
Com finais de tirar o fôlego
Não encontrei a fórmula
Nem descobri o que quero
Tornei-me peregrino por opção
Entendi que nada é pra sempre
E que as certezas são pífias
Continuo meu caminho
Quero nele encontrar um coração
Na bagagem, memórias e sentimentos
Que não podem ser roubados
Levando a expectativa de ser surpreendido
Na próxima esquina
Seja com lágrimas ou com sorrisos
Não importa
Pois meu caminho é sem destino imaginado
E minha peregrinação não me deixa esquecer
De que sou humano, que vou errar, que vou acertar
E, independentemente do resto, de que vou aprender




domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

Falando o que não devo!

Diz a sabedoria popular que política e religião não se discute...
Porém, como ninguém respeita o povo mesmo, preciso escrever um pouco sobre religião. Ou melhor, mais especificamente, sobre religiosos. Gostaria, na verdade, de fazer um podcasting, mas como estou na fase low-tech, vou de postagem no blog mesmo!
Estes tem sido tempos difíceis pra mim, sinto todo o peso da existência sobre meus ombros, muitas incertezas, coração apertado, caminhos que não parecem levar a lugar algum. Estou entendendo que nunca estarei 100% convicto de nada, que sempre virão novas perguntas e que nunca deixarei de ter uma alma inquieta. Tudo bem, aceito até o fato de que nossa vida seja mesmo uma peregrinação em busca de um lugar seguro para nossas almas descansarem. Nunca deixarei de acreditar em que possa existir algo mais do que nossos olhos e sentidos conseguem perceber, ou, como na frase de Antoine de Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos.
Além disto, acho pobres as almas daqueles que ficam gritando e esfregando na cara de todos o fato de serem ateus ou, com perdão do trocadilho, à-toa.
Por outro lado, o que me motiva a escrever não são os incrédulos, são os crentes. Cansei de ouvir baboseira a torto e a direito por aí. Realmente parece o final dos tempos, sempre tem um Pr. Fulano de Tal ou um Missionário Beltrano, aliás, títulos é que não faltam: apóstolo, bispo, profeta, homem -de -Deus, semi-deus, sumidade, blablablá. Ligo a TV, abro o jornal e pronto: evangelho e vc tudo a ver; igreja: sempre uma pertinho de vc!! E é este exatamente o problema, parece que o livre arbítrio e a liberdade de pensamento não existem mais. Muito parecido, embora em proporções totalmente diferentes, com a questão da homossexualidade, quer dizer a "moda de ser homo", como vi um cara dizendo que daqui a pouco vai ser homofobia ser hétero. O que quero dizer é que estamos caminhando pra um ponto no qual os preconceitos só inverterão o lado.
Hoje fui ler os posts num blog da série Supernatural e, pra variar, tinha um crente reclamando, dizia que a série é herética, que está totalmente contra a bíblia e muito mais. E o pior, o cara nem sabia escrever direito, mas um ou dois versículos ele tinha decorado. Fico extremamente incomodado com isso, ter o espaço invadido por alguém que se sente no direito de impor seu pensamento, ser incomodado na rua pra ser "convidado" a ir a uma reunião e mais ofensivamente ainda, alguém vem me abordar pra dizer que o cigarro que estou fumando é diabólico e coisa do tipo. Há algum tempo, uma senhora veio falar comigo e com uns amigos, em frente ao meu lugar de trabalho pra falar que precisamos de Deus e, para enfatizar, ela apontou para uma criança excepcional que atravessava a rua com a mãe e disse que aquilo era obra do Diabo e que nós éramos culpados por isso, pois estávamos fumando... O que dizer disso? No mínimo que falta inteligência e bom senso.
Enfim, todo mundo faz discurso, seja religioso, político ou ideológico, sempre tem alguém com algo pra falar, uma descoberta que é a última palavra a ser dita, sempre tem gente que encontrou o caminho das pedras, mas, quando realmente vamos respeitar as diferenças e conviver com o outro sabendo que junto é melhor que sozinho?
Não precisamos de religião, política, diplomas, ideologias, times de futebol ou de qualquer outra coisa para nos aproximarmos de alguém. Um simples gesto, um carinho um mostrar que se importa, pode bastar e, além disso, pode mudar a vida do irmão do lado. E pode ser muito mais significativo do que recitar um milhão de versículos decorados, porém não vividos, ou mesmo um discurso repetitivo que mais ofende do que convence.
Gosto muito da música "ants marching" da Dave Matthews Band e que tem um trecho que diz que assim como as formiguinhas, andando e balançando suas anteninhas, nós não temos tempo pra mais nada, nem pra trocar algumas palavras, apenas marchamos, sem nenhum pensamento além disso...
Infelizmente tem sido assim com nossa humanidade, tempos difíceis.
Moral da história, façamos algo por quem está do nosso lado e precisa de ajuda, mas, POR FAVOR, num me venha com baboseira religiosa e papinho bravo que se aprende na escola dominical!!!




sexta-feira, 7 de maio de 2010

Quando penso...

Ouço uma melodia em minha mente
Cujo ritmo estremece o corpo
Minha alma, tímida começa a dançar
E o coração sai do compasso

Um refrão me diz o que quero ouvir
E, com ele, todo meu ser faz coro
Fecho os olhos e, inconscientemente
Passo a imaginar minha vida
Num conjunto de acordes

Percebo uma harmonia complexa
De coisas vividas
De emoções sentidas
E sinto nostalgia

Mas continua a melodia
E por ela sigo hipnotizado
Num transe quase religioso
Contemplo o infinito
Com um sorriso






sexta-feira, 19 de março de 2010

Não sei

Eu olho ao redor e tudo o que vejo me desanima

As pessoas parecem perdidas em seus próprios interesses

Aprisionadas na rotina, em busca de satisfação

Mas não sabem realmente o que fazer

Eu não sei

Eu quero acreditar nas coisas boas,

E ter esperança de que o feitiço deste século se quebre

Porém, eu mesmo não sou bom

Eu mesmo sou escravo

Não consigo distinguir o que é real do que me fizeram acreditar que é real

Através dos olhos da ciência, vejo o mundo de modo pessimista

E encaro a vida como resultado de complexos processos

Processos que, confesso, acho que nunca vou entender

Um dia eu tentei a religião

E encontrei mais perguntas que respostas

Chorei as mentiras contadas às pessoas

Sob o pretexto de salvação da alma

Com a desculpa de que o melhor está no por vir

E hoje, sou resultado da colisão de duas realidades tão opostas

Percebi que não se trata da “Ciência” ou da “Religião”

Na verdade, temos cientistas e religiosos

E, como homens que são, ambos mentem, crêem em excesso

Acreditam sempre ter descoberto o grande “segredo” até que alguém venha com uma nova idéia

E as idéias antigas se tornam fora de moda

Quer dizer, fora de moda até que alguém, muito ou pouco tempo depois,

Diga que na verdade eram boas e o ciclo se feche novamente

Portanto, só posso dizer que não sei

Acreditar ou verificar?

A priori ou a posteriori?

Diria que minha alma está assombrada

Entretanto, nem sei se tenho uma alma

E, por assim dizer, nem sei se posso ser assombrado

Talvez seja louco

Mas a loucura também depende do ponto de vista

Então não sei

sábado, 27 de fevereiro de 2010

inacabada

Sinto vontade de dizer o que nunca foi dito

De escrever o que nunca foi escrito

Com palavras que não pareçam plágio

De poesias decoradas

Vestindo máscaras de originalidade

Quero cantar uma música que não foi ensaiada

Cuja letra é espontânea

E a melodia é improviso

Pra não lamentar o passado

E não prever o futuro

Pra não precisar sonhar

Principalmente os sonhos dos outros

Procurando um caminho

Por onde apenas eu possa andar

Que me leve aonde ninguém foi

E me ensine o que ninguém aprendeu

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ecos da alma

Incerteza, o pior dos demônios. É impossível exorcizá-lo. Conviver com ela parece ser insuportável.
Penso como seria se ela não existisse. Talvez um pouco da poesia da vida fosse extinta. Porém, seria tão ruim assim? Viver em prosa e não em verso?
O fantasma assombra a cada nova interrogação. A percepção é falha e cabe aos corajosos arriscarem. Numa realidade distorcida, o que resta é tatear no escuro em busca do caminho que leva não sei aonde.
Inquieto, fico sem saber. A vida segue em ritmo alucinante, numa rotina que entorpece e, como as piores drogas, intoxica os pensamentos, adormecendo a razão.
A mercê do instinto, corro, sem rumo, penso em desistir, desejo liberdade. Um desconhecido cujo reflexo aparece no espelho quando, ao acaso, arrisco-me a olhar.
Não, não penso que a razão explique a existência. Apenas não tenho um modelo melhor. Tenho que aceitar a possibilidade de que talvez nunca venha ater.
A respiração é a única evidência da vida, desestimulante e contraditória que vivo.
Permanece ainda um sentimento bem humorado, um sorriso ao canto dos lábios, um vislumbre de uma pálida certeza: eu sobreviverei.

Nietzche

"Eis uma história lamentável: o homem busca um princípio no qual possa apoiar-se para desprezar o homem, - inventa um mundo para poder caluniar e poluir este mundo: realmente estende sempre sua mão em direção do nada, e desse nada constrói "Deus", a "verdade", e por todas as maneiras, juiz e condenador deste ser..."
(Friederich Nietzche - Vontade de Potência - Livro Segundo)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Si un hombre nunca se contradice, será porque nunca dice nada"

(Miguel de Unamuno)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vistas grossas

"Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"
(Haiti - Caetano Veloso)

Qual seria o sentimento de um filho faminto ao ver seu pai esvaziar a despensa para dar de comer a alguém que, miserável, bate à porta?

Estima-se que no Brasil existam 59,6 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e 24,7 milhões vivendo em extrema pobreza.

A população do Haiti é de 8,121 milhões de pessoas (dado de 2005).

O Brasil anunciou em 13/01/2010 que faria uma doação de US$15 milhões(segundo o Estado de São Paulo) ao Haiti, para ajudar as vítimas do terremoto.

E as nossas vítimas?

Porque alguém perder sua casa em outro país é tão mais comovente que um brasileiro que mora embaixo de um viaduto?

As lágrimas de uma criança são mais reais na televisão?

Se não for pauta no Jornal Nacional não aconteceu?

A miséria bate à nossa porta diariamente e não atendemos. Preferimos discutir os problemas do mundo. Lamentar a desgraça televisionada.

As rodas de "intelectuais" discutem o seu papel frente a intervenção política no próprio Haiti.

Nas universidades, as faixas de protesto não dizem nada sobre o tráfico de drogas que a cada dia recruta novas crianças para seu exército. Legalize já é a palavra de ordem em alguns círculos.

O vermelho dos olhos vem do verde da natureza. No entanto, é vermelho também o sangue das vítimas do tráfico.

Nossa pátria é mãe gentil, dos filhos de todos os solos, menos dos deste.

Não, o Haiti não é aqui.

Pra nossa vergonha.

sábado, 30 de janeiro de 2010

O vício


"Não podemos hoje imaginar a degenerescência moral separada da degenerescência fisiológica: a primeira nada mais é que o conjunto de sintomas da segunda: somos necessariamente maus, como somos necessariamente doentes... Mau: a palavra exprime aqui certas incapacidades que são fisiologicamente ligadas ao tipo da degenerescência: por exemplo, a fraqueza da vontade, a incerteza e até a multiplicidade da "pessoa", a impotência para suprimir a reação a uma excitação qualquer e de "dominar-se", o constrangimento diante de toda espécie de sugestão de uma vontade estranha. O vício não é a causa; o vício é a consequência."
(Friederich Nietzsche - Vontade de Potência)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Perguntas

Tenho buscado respostas durante minha vida inteira. Aquelas dúvidas interiores referentes à vida, morte, passado, presente e futuro.
Crises existenciais fazem parte da vida de qualquer pessoa. Não dá pra dizer que existe uma unica alma que não tenha lá seus demônios particulares. É inerente à condição humana.
Daí então o espírito se inquieta, a mente vaga e, quase que instintivamente, o homem sai à procura de respostas. E, como eu, pode passar a vida toda sem encontrar.
Algumas vezes as respostas estão bem diante do nariz, ao alcance das mãos, óbvias, porém, a inquietação é tão grande que, mesmo desejando tanto saber, o homem não enxerga a resposta.
Há quem diga que é isso o que motiva a vida,a busca por respostas, por sentido em meio a uma realidade tão ilógica,tão egoísta.
Contudo, estou percebendo que, na verdade, o que tem motivado minha vida não são as respostas, são as perguntas. Enquanto houverem perguntas, ainda valerá a pena. Quem sabe os demônios não sejam pra ser exorcizados? Infelizmente, a ideologia judaico-cristã vê o que assume ter lá os seus demônios como censurável, vítima de um mal terrível e carente de redenção.
Mas, não é redenção que estou procurando, eu quero novas perguntas, não ter certeza, nem discurso pronto. Eu quero arriscar, e só descobrir no final.
Porque eu não sou covarde.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Dica!


Versão fantástica de uma das melhores músicas da DMB!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Perda do eu


"O eu não é dessas coisas a que o mundo dê muita importância. Com efeito, é aquela que menos curiosidade desperta e que é mais arriscado mostrar que se tem. O maior dos perigos, a perda desse eu, pode passar tão desapercebido dos homens como se nada tivesse acontecido. Nada há que faça tão pouco ruído, seja ela qual for, braço ou perna, fortuna, mulher etc., nenhuma perda pode passar desapercebida"
(Soren Kierkegaard - O Desespero Humano)

Desespero no finito ou carência de infinito

"Necessitar de infinito comprime e limita desesperadamente. Naturalmente, não se trata aqui senão de estreiteza e de indigência morais. Ao contrário, o mundo só fala de indigência intelectual ou estética ou de coisas indiferentes, que são as que mais o ocupam. Com efeito, porque a tendência é dar um valor infinito às coisas indiferentes. A reflexão de quase toda gente prende-se sempre às nossas pequenas diferenças, sem que, naturalmente, se dê conta da nossa única necessidade - porque a espiritualidade está em dar-se conta dela -, por isso nada percebem dessa indigência, dessa estreiteza, que é a perda do eu, perdido não porque se evapore no infinito, mas porque se fecha no finito, e porque em vez dum eu se torna um número, mais um ser humano, mais uma repetição dum eterno zero." (Soren Kierkegaard - O Desespero Humano)

O diário do niilista

"O assombro ante a descoberta do "falso".
Vazio; ausência de pensamentos: as paixões revolvem-se em derredor de assuntos sem valor: - os espectadores destes impulsos absurdos, o pró e o contra: - é necessário refletir com ironia e frieza entre si mesmo. - Os mais fortes impulsos aparecem como sedutores e mentirosos: como se devêramos crer em seus objetivos. A maior força não mais sabe a quem deve servir. O meios existem porém sem finalidade. O ateísmo encarado como falta de ideal.
Fase da negação apaixonada; é quando nela se alivia o desejo longamente acumulado de afirmação e de adoração...
Fase do desprezo até da negação... até da dúvida... até da ironia... até do próprio desprezo...
Catástrofe: Não será a mentira algo de divino? Não reside o valor de todas as coisas precisamente em serem falsas?... Não convirá crer em Deus, não porque seja verdadeiro, mas porque seja falso?... Não será o desespero apenas conseqüência da crença na verdade divina? Não será justamente a mentira, a falsificação, substituindo um falso motivo, que dá um valor, um sentido, um fim?... " (Friedrich Nietzche - Vontade de Potência)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dorian Gray


"Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu"
(Dorian Gray)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Procuro Companhia


Procuro companhia
Pra uma tarde preguiçosa
Pra uma noite de amor
Pra enxugar minhas lagrimas
Pra dizer que me ama
Pra fazer nada junto
Pra trazer paz apenas com um toque
Pra descobrir o mundo
Pra compartilhar as dores
Pra sonhar junto
Pra acordar junto
Pra viver
Pra morrer
Pra ser
Pra estar
Procuro você

Eu quero


Quero outra chance
Pra mostrar que a primeira não é a ultima
Quero um beijo
Pra mostrar que as mágoas são podem torná-lo amargo
Quero esperança
Pra sempre acreditar que ainda está em tempo
Quero um abraço
Pra exorcizar o medo
Quero um sorriso
Pra iluminar minha existência
Quero sonhar
Pra que você faça parte dos meus sonhos
Quero a eternidade
Pra gastá-la ao seu lado
Quero a felicidade
Pra provar que ela tem nome, endereço e telefone
Quero um megafone
Pra gritar pro mundo que não quero mais nada
Só quero você

Uma lição


“Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”
(Antoine de Saint-Exupery - O Pequeno Príncipe)

Sinto

Sinto-me a procura de mim mesmo. Sinceramente, não sei o que quero ou o que realmente sinto além disso.

A cada momento o amor parece ser mais uma ilusão, fruto de um permanente desejo de ser feliz e provar que ainda há esperança para uma humanidade corrompida.

O orgulho de ter as coisas como quero é torturante. Fui até onde conseguia, um pouco além até, e, hoje, penso que pode ter sido para não machucar o ego. Estaria a felicidade atrelada a uma pessoa ou a um sentimento?

Cansei de correr atrás de sonhos dos outros, desejos pré-fabricados de sucesso, fama, reconhecimento. Ninguém faz o que quer e sim corre atrás das vontades impostas pela sociedade, esta, sendo também mais uma desculpa para o homem não estar sozinho. Por que tanto medo da solidão? O que há de tão assustador em se estar face a face consigo mesmo? Acho que o ego é muito assustador , forte e ditador e, então, o homem prefere a conveniência de estar acompanhado de pessoas vazias a enfrentar a si próprio na escuridão dos pensamentos.

Fico irritado nos constantes papos de surdo e mudo que presencio ou mesmo acabo fazendo parte. Não há o real interesse pelo outro, antes, o velho egoísmo se disfarça de altruísmo com um único objetivo, obter dos outros a satisfação do próprio ego, o reconhecimento do favor prestado a si mesmo.

As vozes são muitas, umas vem dos demônios interiores, outras ecoam de trilhas sonoras de consumismo, que são injetadas para que se acalmem os ânimos e refreiem a revolução mais poderosa de todas, a da alma, a total e definitiva revolução contra o ego. Não se vive sozinho; a felicidade é pra ser compartilhada; deve-se correr atrás dos sonhos; só existe a busca pela vitória; não se deve desistir; a disciplina é a maior das virtudes... Quantas vozes, pensamentos enlatados, fruto do domínio a que o homem está submetido.

Por que não viver sozinho? O que uma sociedade do “cada um por si” me acrescenta?

Que felicidade? A inalcançável felicidade de se comprar mais e mais a cada novo salário e nunca ter o bastante? A felicidade e “amar” e “compartilhar” a mútua traição de se buscar o beneficio próprio?

Ninguém sonha o próprio sonho acordado, e sim aceita a vontade alheia do que é melhor e desejável. Corre-se mais e mais atrás do produto do mercado, o sucesso do ego que queima na fogueira das vaidades, numa frenética corrida para se chegar lá, não se sabe onde.

A vitória é ouro de tolos, premio outorgado aos que aceitam ser medíocres e buscam os louros de méritos duvidosos. O que é legitimo então? Não tenho a reposta.

Desistir dos objetivos comprados num shopping de sonhos e vaidades? Desistir de ser mais um zumbi possuído ao mesmo tempo pelo próprio ego e pelo ego coletivo?

Disciplina em se permanecer submisso à escravidão, às cadeias de uma vida de mentiras que tornam a jornada mais suportável?

E o que dizer da liberdade? Liberdade de fazer o que quiser com os outros sob o pretexto de se estar buscando a própria felicidade?

Definitivamente, não é isso que eu quero pra mim. Agora, fica mais fácil, eu sei o que não quero, resta saber o que quero, o que é real num mundo onde o virtual é moda, onde o que é passageiro é desejável, onde não pensar e ser dominado é a regra.

Quem Somos nós

Animais cujos corações estão perdidos, incapazes de se comunicarem, confusos numa babel de sentimentos...

Vítimas do próprio preconceito, abismos intransponíveis de separação.

Comunhão fingida, superficialidade ensaiada.

Show de vaidades, espectadores mórbidos e inertes.

Medo socialmente correto, politicamente engajado.

Discursos prosaicos e vazios.

Almas carentes, famintas pela sinceridade cativa.

Ansiosas pelo amor liquefeito no calor da modernidade.

Sem um lar, peregrinos em terra hostil.

Escravos das engrenagens de um sistema impiedoso.