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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sobre sentimentos e liberdade


Como lidar com os próprios sentimentos? O que fazer quando as coisas fogem ao controle? Quando o que se espera não acontece? Sensações  de se estar miserável, de mal com o mundo e de portas abertas para a depressão são muito recorrentes.
Ninguém está imune à paixão. Existem momentos na vida em que decidimos nos assenhorar dos nossos sentimentos e bater no peito exclamando que preferimos ficar sozinhos. Parece-me resolução pós ressaca, a típica promessa de não beber nunca mais. E sabemos que durará até a próxima mesa de bar e nem um pouco além.
Sendo assim, o que eu posso fazer quando mesmo sem querer me vejo pensando em alguém mais do que deveria ou queria?
Passei tanto tempo encarando erros passados, remoendo feridas antigas e tentando superar limites emocionais, porém nunca me vejo preparado para lidar com novos sentimentos, sempre sou pego de surpresa. E a novela recomeça.
Admiro muito aqueles de quem ouço por aí, cujos amores são livres, leves e sem todo o peso de relacionamentos convencionais, pré-moldados numa cultura que está totalmente ultrapassada. Ando me esforçando por conseguir sentir e agir da mesma forma. Por outro lado, acabo apenas descobrindo mais fracassos e frustrações.
Começo a pensar se é possível ser totalmente livre na maneira de sentir, amar e ser amado.
O ponto de partida então é entender o que realmente se está sentindo. Afinal, o que é paixão? E o desejo tão avassalador que nos acomete a cada novo despertar afetivo?
Fui atrás de definições, mesmo estando entre aqueles que acham que definições não simplificam e nem ajudam na melhor compreensão. O que procurei foi ter a referência mais geral do que na nossa própria cultura tem por trás das ideias de paixão e desejo, a Wikipédia diz:

"A paixão (do latim tardio passio -onis, derivado de passus, particípio passado de patī «sofrer» ) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Paix%C3%A3o_(sentimento) - acessada em 24/01/2014)


"Em filosofia, o desejo é uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. É uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a representação do fim esperado, o qual é o conteúdo mental relativo à mesma. Enquanto elemento apetitivo, o desejo se distingue da necessidade fisiológica ou psicológica que o acompanha por ser o elemento afetivo do respectivo estado fisiológico ou psicológico.
Tradicionalmente, o desejo pressupõe carência, indigência. Um ser que não carecesse de nada não desejaria nada, seria um ser perfeito, um deus. Por isso Platão e os filósofos cristãos tomam o desejo como uma característica de seres finitos e imperfeitos."
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Desejo - acessada em 24/01/2014)

Sei bem que a Wikipédia está longe de fornecer quaisquer respostas mais substanciais, apenas achei interessantes as duas definições acima. De um modo ou de outro, ambas palavras me remetem a uma noção de sofrimento, de aprisionamento emocional e psicossomático.
Apaixonar-se e, consequentemente, passar a desejar alguém está diretamente relacionado ao adoecimento, voluntário ou não, da nossa alma.
Aqui é evidente a questão da construção cultural ditando as regras. Imagino como seriam minhas paixões se eu vivesse em culturas completamente diferentes da nossa. Será que o sofrimento seria diferente? Ou então não haveria sofrimento?
Depois de se viver boa parte da vida sendo induzido a pensar e sentir de uma determinada maneira, fica muito difícil encontrar um ponto de mudança. Andar na contra corrente e abraçar um novo e mais honesto modo de viver e sentir.
Para piorar, ainda nem comecei a problematizar o amor em si, não tenho coragem de fazê-lo, tão pouco maturidade para tanto.
Neste ponto começo a concluir que a liberdade afetiva está muito bem trancada atrás das portas da nossa cultura consumista e imediatista, nossa visão está totalmente obscurecida pela paixão enlatada que nos tem sido empurrada goela abaixo.
Identifico-me aqui com todos que vivenciaram ao menos uma paixão patológica. E vou além, admito que sofro de paixões sazonais o tempo todo. Estou longe tanto da primeira vez quanto da última, para minha inquietação.
No final das contas, continuo brigando comigo, descobrindo que estou longe de vencer o ciúmes, os sentimentos de possessão e o jeito tacanho de me apaixonar.
Quem me dera evoluir, redefinir internamente os significados de paixão e desejo, melhor, abandoná-los por completo. Não estou sendo herege, os filósofos que me perdoem, pensando em estar livre de necessidades, tornando-me um deus, apenas quero ser humano como todos somos, contudo, sem ser escravizado por imposições afetivas.
Ser livre para até mesmo estar junto, poder estar com quem quiser e saber que quem está comigo também o é. Ter o privilégio de aproveitar o momento sem cobrar o futuro. No fim, inventar um novo modo de amar e ser amado.
Por ora, apenas tenho uma longínqua utopia pela frente, todavia, continuar a caminhada é o melhor modo de se chegar aonde quer.
Até lá, paixões agudas e corações partidos são efeitos colaterais!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Dias insanos

Depois de mais de uma quinzena desde o início de 2014 e ainda penso nos ecos do ano passado. É sempre a velha história de resoluções de ano novo, mudanças bombásticas, sem falar nos planos que havíamos feito e não deram certo.
Nos tempos modernos tudo é tão exagerado, sejam as coisas boas, sejam as ruins, padecemos de males tão assustadores que parece que o nosso pequeno mundo vai colapsar a qualquer momento.
E assim sou eu também, cem por cento do tempo me sentindo miserável, sem perspectivas e, embora com tão pouco a se imaginar, temendo por o que quer que possa vir no ano que se inicia.
Estou fazendo a mais profunda auto analise que consigo, correndo atrás de respostas cujas perguntas persistem desde muito.
Encontrei muitas respostas excelentes, mas que se aplicavam a outrem, não acalmaram meu coração, tão pouco permitiram que a inquietação cedesse lugar à serenidade.
Sinceramente não acho que vou alcançar o melhor estado de espírito, contudo admito a minha teimosia em sempre insistir.
As teorias, frases de efeito, conhecimento alheio, enfim, o que vem de fora, pode até inspirar, no entanto jamais irá resolver as paranoias individuais. Concordo quando dizem que somos tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo, por mais paradoxal que seja. E dizem tanta coisa, não?
Cansei de ouvir dizer que a resposta está mais adiante, que basta persistir e, cedo ou tarde, tudo acabará se encaixando.
Estou descobrindo que olhar no espelho é um bom começo. Assumir os próprios erros e assumir cada sentimento e confusão que aparecer.
Muitos me falam que eu estou sempre sofrendo muito por tão pouco. Pessoas queridas, irmãos de caminhada, repetem sempre o mesmo discurso. Sim, com todo meu coração, eu sei disso.
Hoje, todavia, é o momento no qual assumo e abraço minha própria causa, sentir e sofrer e gritar tudo que vier da maneira mais autêntica que puder.
Há anos que digo buscar a liberdade, a paz interior e, apesar de todos os esforços, cabe de novo dizer que no final das contas nem sei mais o que estou procurando.
Sinto-me preso às circunstâncias, refém da carne, alguém que vive um misto de sonho com pesadelo e, pior ainda, muito mais sonhos de outros do que meus. Poucas foram as vezes onde parei para refletir sobre o que quero de mim e para mim, sem influencias externas. Tudo bem, há quem diga que não somos ilhas, que vivemos em sociedade, temos compromisso uns com os outros. Certo, não me importa. Quem pode admitir que a humanidade realmente está no caminho certo? Não tenho isto definido para mim.
Talvez a ideia de que o homem pode desejar a sabedoria, porém não obtê-la diretamente, se aplique a tudo na vida. Quero tanto querer, sem saber exatamente o quê. De repente seja isto, posso cultuar, olhar de longe, aproximar-me, provar em parte, sem nunca obter completamente.
É difícil olhar para dentro. Ainda mais quando se tem medo do que pode estar lá.
Tenho virado muitas esquinas da minha alma e sido surpreendido ou mesmo assustado com cada parte mais obscura de mim que encontro. Além disto, muitos são os desencontros. Consegui me perder em mim incontáveis vezes.
Minhas emoções parecem bloqueadas, luto para libertá-las, de modo que o choro não fique mais engasgado e, quem sabe assim, com ele novos eus consigam aflorar.
Reinvenção do eu, é o que estou tentando fazer. Somente sendo eu para saber o quão doloroso pode ser o processo.
A solidão não ajuda. A pior parte dela é justamente que não escolhe hora e nem lugar para bater à porta de nossa vida. Estou solitário em meio à tantos egos dentro de mim.
Decidir novos rumos, inventar novas verdades, como é demorado!
Meu problema é comigo, mas é contagioso. Pensar, surtar, andar de um lado para outro, dormir ou ter noites em claro, são estes os preços a se pagar. Estou pagando cada centavo.
Tudo que tenho até aqui são mais interrogações, nenhuma conclusão.
Quero dizer portanto que persigo o virtual querendo que se torne real. Independentemente do que vier, parte de se viver é nunca deixar que o coração se aquiete, poética ou literalmente.

domingo, 17 de novembro de 2013

A queda

Talvez, e só talvez, chegará o dia em que desistirei.
Em que a inércia vencerá o ímpeto e os sonhos envelhecerão junto com a alma.
Haverá o momento onde o choro não encontrará consolo.
A angústia sobrepujará a vontade de viver.
Calado não encontrarei forças para lutar o bom combate.
As chagas do coração florescerão, somatizando cada fantasma obscuro e trazendo o abraço do esquecimento.
Naquele dia o tempo será o vencedor e, resignado, sairei de cena.
Até lá serei exclusivamente meu. Andarei errante por opção, descobrirei a altura, largura e profundidade por mim mesmo.
Chorarei o fracasso toda vez. Terei os surtos, compartilharei da condição humana, brindarei à aventura à novidade. Aceitarei os erros, alegrar-me-ei com o sucesso.
Elevarei a estatura do espirito. Serei parceiro da inconsequência, cúmplice da vontade.
A queda pode vir, mas nunca sem acrescentar sabedoria.
Um dia apos o outro, eu companheiro de mim, quero viver e ser vivido.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Rotina

Um dia qualquer, o mesmo sentimento. Engoliu o choro junto com o café, saiu.
Passos largos, porém inseguros. Ônibus lotado.
Paisagem urbana. Memórias assombrantes, murmurio interno. Desceu.
Hesitante, olhou ao redor, procurando o que sabia não estar lá.
Cinco minutos. Bom dia! Sorriso pré concebido.
Relógio preguiçoso. Diálogos sinceros mascaravam a solidão muda.
Meio-dia. Fome. Fila do restaurante.
Tarde automática. Até amanhã! Trânsito congestionado.
Abriu a porta, acendeu a luz. Músicas no rádio. Banho demorado.
Angústia, tristeza e ansiedade, inimigos antecedentes ao sono. Lágrimas relutantes. Um soluço. Respiração profunda. Suspiro.
Pensamentos se confundindo com sonhos. Vontade de mudar. Conformismo latente. Dormiu.
Outro dia, o mesmo sentimento. Sobrevida.

Agora

Não passará
O tempo entorpece, amansa
Fica suportável
Domestica

Adiante
Mais distante da realidade
Próximo à loucura
Inimigo próprio

Alma
Grito mudo
Espírito
Sussurro inquieto

Vício
Impulso
Tortura
Sorriso

Medo sorrateiro
Angústia arquetípica
Tristeza idiossincrática


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Insônia

Mãos trêmulas seguravam o isqueiro, acendeu o cigarro com um trago profundo. Madrugada, silêncio quebrado pela respiração torturante.
Faltava o sono, pensamento frenético, aperto no coração com gosto de incerteza. Conflito entre ser e querer.
O tic tac sinistro do relógio, sinais de angústia perene, apenas oculta pela rotina, disfarçada de indiferença. Pequena dor, crescendo qual um câncer, tomava conta de tudo. 
Escruciante dor na alma, silenciosa e carente. O medo era sólido, as verdades voláteis não venciam as dúvidas.
O passado envolvia e assolava. O presente incomodava. Futuro ausente.
Quem era, o que queria, em que acreditava. As lágrimas irrigavam a melancólica certeza da frustração, a pior de todas, a frustração do eu fraco, subjugado pelo medo, sufocado pela angústia de ser espectador e não agente.
Segundo cigarro. Soluço de espírito. Os porquês não se manifestavam. Interrogações.
Até quando? Outra noite de insônia. Tristeza intrínseca brindava à solidão crônica. O pessimismo flertava com a saudade injustificada numa dança das sombras.
Era o tudo, contrastando com o nada. Caia, levantava, era fraco, chorava, pra sorrir em seguida. Desistia, voltava a tentar, era humano, não era ninguém. 
Não era muito, não era pouco, era suficiente. Não era o que queria ser.
Não é você, sou eu.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Só sei que é assim

O entendimento é uma porta aberta para a loucura...
Parece-me que quanto mais procuro entender a vida, mais louca ela se torna.
É assustador quão complicado é o gênero humano.
Fala-se tanto em amor, felicidade, realização e infinitas outras carências e, por outro lado, faz-se tão pouco para se alcançar qualquer uma delas.
A sanidade é tão frágil. Vejo as pessoas tornarem-se reféns dos próprios pensamentos, vejo atitudes viciadas e erros cíclicos. Por quê?
Acho tudo tão irracional...
Sinto como se estivesse andando num corredor infinito sem portas de saída e sem saber por onde entrei.
O pessimismo deixa de ser opção, impossível não perder a fé.
O que quero no final das contas?
Simplicidade, autenticidade, só isto. Não quero conversas difíceis, livros densos, filmes cults, amigos intelectuais forçados... Eu quero uma vida de verdade, um dia de cada vez, falar o que vier à mente sem preocupações, quero amar quem julgar ser merecedor e odiar quem for preciso...
Eu quero ser humano, imperfeito e falível... Por que ninguém deixa? Por que ninguém assume que também o é?