Pesquisar este blog

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Imagem e Semelhança

Assombrado pelos próprios medos, não sou eu quem pensa, pensam por mim.
Disfarçam a realidade, transmutam os valores, vendem sonhos, contam mentiras até torná-las verdades absolutas.
Escravizado pela rotina, ações mecânicas, programado para reagir, entorpecido pelas drogas da modernidade.
Perdido, passageiro da própria vida, espectador das próprias ações, cão domesticado pelo sistema.
Porção diária de mediocridade, acompanhada de alienação progressiva. Vontade castrada, alma infértil, pensamento linear.
Quem sou eu? Eu sou eu, sou você, sou homem, sou filho de Deus ou bastardo do Sistema? Adotado pelo Diabo, amado pela indiferença, irmão do caos.
Imagem e semelhança da decadência, não ressuscitarei ao terceiro dia.
Vivo uma unica vez, morro infinitas.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

O silêncio

Cigarro aceso, o gosto da nicotina tornava mais amargo o choro engasgado.
O peito doía somatizando a dor da alma. Pernas trêmulas, olhar vazio. Olhava pela janela, a morte seduzia, deixara de ser covardia para se tornar uma opção tentadora. O desespero torturava, tingindo de cinza tudo que estava ao alcance dos olhos. Em vão, tentava entender o que acontecia, precisava entender. Não conseguia aceitar, memórias se dissolviam diante da decepção e catalizavam as lágrimas. Choro, soluços, uma angústia muda, solitária, tinha por testemunhas os arranha-céus, não encontrava consolo.
Imaginava coisas, alucinava de terror. Andou pelo quarto, abriu gavetas, trocou de roupa. Ligou o aparelho de som, revirou os cds, mas já sabia a escolha. Era sua banda favorita, sua música favorita. Cantou a letra com todas suas forças, não tinha mais medos de que reclamassem por ser desafinado. Sua voz soava como um mantra, repetia o refrão quase como uma reza e murmurava "someday yet, he'll begin his life again..." Porém, não acreditava nisso, não mais, não naquela hora.
Já havia tomado sua decisão. Sentou-se no chão frio do quarto. Ouvia o solo, não tinha mais vergonha das lágrimas, nem temia ser visto.
Levantou-se, começou a balançar a cabeça freneticamente, numa dança de loucura e liberdade, finalmente permitia-se ser ele mesmo, sem máscaras, sem receios. Sentia-se auto-suficiente pela primeira e última vez. Sem que percebesse, meia hora se passou e continuava a dançar, mesmo após o final do cd, era sua coreografia, seu ritual sagrado de renúncia.
Esgotado, despencou ao chão, quase sem forças. Os pensamentos não paravam, a mente girava numa espiral sem fim.
Todos seus sonhos saltaram-lhe os olhos num mosaico de sentimentos e imagens. Recortes de planos futuros e nostalgias. Seu mundo colapsava num misto de rejeição e incompreensão. Não era mais parte da entorpecida realidade que o cercava, sequer sabia se de fato um dia foi.
Tudo o que queria era não estar só, ouvir que era importante, que tudo tivera um significado, por menor que fosse. Queria um abraço, um carinho, migalhas de compaixão.
Subiu na janela. Hesitou, precisava ser ouvido. Queria mais do que indiferença. Era o momento de se quebrar a maldição, de ouvir as palavras mágicas que trouxessem redenção, ou paz.
Contudo, não era conto de fadas, não havia final feliz. Abraçou o vazio, suspirou seu destino.
Ouviu o silêncio e não foi ouvido...

domingo, 4 de julho de 2010

O meu caminho

Tantos são os caminhos
Os que andei
Os que ainda quero andar
Nos quais encontrei respostas
Ou novas perguntas
Atalhos, desvios, becos-sem-saída
Jornadas maravilhosas
Que levaram a destinos medíocres
Viagens torturantes
Com finais de tirar o fôlego
Não encontrei a fórmula
Nem descobri o que quero
Tornei-me peregrino por opção
Entendi que nada é pra sempre
E que as certezas são pífias
Continuo meu caminho
Quero nele encontrar um coração
Na bagagem, memórias e sentimentos
Que não podem ser roubados
Levando a expectativa de ser surpreendido
Na próxima esquina
Seja com lágrimas ou com sorrisos
Não importa
Pois meu caminho é sem destino imaginado
E minha peregrinação não me deixa esquecer
De que sou humano, que vou errar, que vou acertar
E, independentemente do resto, de que vou aprender




domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

Falando o que não devo!

Diz a sabedoria popular que política e religião não se discute...
Porém, como ninguém respeita o povo mesmo, preciso escrever um pouco sobre religião. Ou melhor, mais especificamente, sobre religiosos. Gostaria, na verdade, de fazer um podcasting, mas como estou na fase low-tech, vou de postagem no blog mesmo!
Estes tem sido tempos difíceis pra mim, sinto todo o peso da existência sobre meus ombros, muitas incertezas, coração apertado, caminhos que não parecem levar a lugar algum. Estou entendendo que nunca estarei 100% convicto de nada, que sempre virão novas perguntas e que nunca deixarei de ter uma alma inquieta. Tudo bem, aceito até o fato de que nossa vida seja mesmo uma peregrinação em busca de um lugar seguro para nossas almas descansarem. Nunca deixarei de acreditar em que possa existir algo mais do que nossos olhos e sentidos conseguem perceber, ou, como na frase de Antoine de Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos.
Além disto, acho pobres as almas daqueles que ficam gritando e esfregando na cara de todos o fato de serem ateus ou, com perdão do trocadilho, à-toa.
Por outro lado, o que me motiva a escrever não são os incrédulos, são os crentes. Cansei de ouvir baboseira a torto e a direito por aí. Realmente parece o final dos tempos, sempre tem um Pr. Fulano de Tal ou um Missionário Beltrano, aliás, títulos é que não faltam: apóstolo, bispo, profeta, homem -de -Deus, semi-deus, sumidade, blablablá. Ligo a TV, abro o jornal e pronto: evangelho e vc tudo a ver; igreja: sempre uma pertinho de vc!! E é este exatamente o problema, parece que o livre arbítrio e a liberdade de pensamento não existem mais. Muito parecido, embora em proporções totalmente diferentes, com a questão da homossexualidade, quer dizer a "moda de ser homo", como vi um cara dizendo que daqui a pouco vai ser homofobia ser hétero. O que quero dizer é que estamos caminhando pra um ponto no qual os preconceitos só inverterão o lado.
Hoje fui ler os posts num blog da série Supernatural e, pra variar, tinha um crente reclamando, dizia que a série é herética, que está totalmente contra a bíblia e muito mais. E o pior, o cara nem sabia escrever direito, mas um ou dois versículos ele tinha decorado. Fico extremamente incomodado com isso, ter o espaço invadido por alguém que se sente no direito de impor seu pensamento, ser incomodado na rua pra ser "convidado" a ir a uma reunião e mais ofensivamente ainda, alguém vem me abordar pra dizer que o cigarro que estou fumando é diabólico e coisa do tipo. Há algum tempo, uma senhora veio falar comigo e com uns amigos, em frente ao meu lugar de trabalho pra falar que precisamos de Deus e, para enfatizar, ela apontou para uma criança excepcional que atravessava a rua com a mãe e disse que aquilo era obra do Diabo e que nós éramos culpados por isso, pois estávamos fumando... O que dizer disso? No mínimo que falta inteligência e bom senso.
Enfim, todo mundo faz discurso, seja religioso, político ou ideológico, sempre tem alguém com algo pra falar, uma descoberta que é a última palavra a ser dita, sempre tem gente que encontrou o caminho das pedras, mas, quando realmente vamos respeitar as diferenças e conviver com o outro sabendo que junto é melhor que sozinho?
Não precisamos de religião, política, diplomas, ideologias, times de futebol ou de qualquer outra coisa para nos aproximarmos de alguém. Um simples gesto, um carinho um mostrar que se importa, pode bastar e, além disso, pode mudar a vida do irmão do lado. E pode ser muito mais significativo do que recitar um milhão de versículos decorados, porém não vividos, ou mesmo um discurso repetitivo que mais ofende do que convence.
Gosto muito da música "ants marching" da Dave Matthews Band e que tem um trecho que diz que assim como as formiguinhas, andando e balançando suas anteninhas, nós não temos tempo pra mais nada, nem pra trocar algumas palavras, apenas marchamos, sem nenhum pensamento além disso...
Infelizmente tem sido assim com nossa humanidade, tempos difíceis.
Moral da história, façamos algo por quem está do nosso lado e precisa de ajuda, mas, POR FAVOR, num me venha com baboseira religiosa e papinho bravo que se aprende na escola dominical!!!




sexta-feira, 7 de maio de 2010

Quando penso...

Ouço uma melodia em minha mente
Cujo ritmo estremece o corpo
Minha alma, tímida começa a dançar
E o coração sai do compasso

Um refrão me diz o que quero ouvir
E, com ele, todo meu ser faz coro
Fecho os olhos e, inconscientemente
Passo a imaginar minha vida
Num conjunto de acordes

Percebo uma harmonia complexa
De coisas vividas
De emoções sentidas
E sinto nostalgia

Mas continua a melodia
E por ela sigo hipnotizado
Num transe quase religioso
Contemplo o infinito
Com um sorriso